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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Doenças causadas por protozoários

Doença de Chagas
A doença de Chagas ou tripanossomíase é uma infecção generalizada, de natureza endêmica e evolução essencialmente crônica, causada por um protozoário flagelado – o Trypanosoma cruzi (Chagas, 1909), transmitida ao homem e a outros animais habitualmente através de triatomíneos.
Possui ampla distribuição geográfica por todo o continente americano, desde o Sul dos Estados Unidos até a Argentina. Fora das Américas nenhum caso de infecção humana pelo T. cruzi foi identificado. Devido a sua grande difusão e pela gravidade das manifestações que pode acarretar, por não ter tratamento específico definido, e ainda, pela complexidade de sua profilaxia, a doença de Chagas representa grave e alarmante problema sanitário. Ocupa lugar primordial entre as endemias rurais, ponderadas sua prevalência e sua patogenicidade, inutilizando muitas vidas em idade produtiva. Embora eminentemente rural, representa problema também para centros urbanos, dada a corrente migratória de rurícolas em busca de melhores condições de vida; haja vista a prevalência das infecções pelo T. cruzi em candidatos à doação de sangue, às vezes bastante elevada em várias cidades, com a conseqüente possibilidade de transmissão da doença por transfusão. O transmissor é um inseto da ordem Hemiptera, família Reduviidae, subfamília Triatominae. Já foram descritas cerca de 100 espécies de triatomíneos silvestres e domiciliares (América do Sul: Triatoma infestans, Rhodnius prolixus, Panstrongylus megistus – América Central: Triatoma protacta, Triatoma pallidipennis, Triatoma phyllosoma – Cosmopolita: Triatoma rubrofasciata) encontrado em todos os países do continente americano, desde o sul dos Estados Unidos até o sul da Argentina; fora das Américas foram assinaladas cerca de 10 espécies, porém nenhum triatomíneo naturalmente infectado. Vulgarmente são chamados de barbeiro (pelo hábito de sugarem o indivíduo no rosto, que é a parte mais comumente descoberta durante o sono), chupança, chupão, fincão, bicudo e procotó no Brasil; vinchuca e chinche nos países de língua espanhola; e Kissing bug e cone nosed bug nos Estados Unidos.
O inseto adquire os tripanossomos ao sugar o sangue de pessoas ou de animais silvestres contaminados, entre os quais se destaca o tatu, em cujas tocas o mosquito costuma se abrigar. Ao picar uma pessoa, geralmente no rosto (por isso o nome de barbeiro), o inseto defeca; se estiver contaminado, ele elimina tripanossomos junto com suas fezes. Ao coçar o local da picada, a própria pessoa se contamina com os protozoários, que penetram através do ferimento da picada, e pela corrente sanguínea atingem diversos órgãos e tecidos. O ciclo do T. cruzi nos triatomíneos é constituído de três fases, as quais sofrem modificações ao longo do tubo digestivo: estomacal (fase de regressão), intestinal ou duodenal (fase de multiplicação) e intestinal posterior ou retal (fase de evolução). No período inicial da infecção o parasita já foi encontrado em quase todos os órgãos e tecidos; entretanto a musculatura (cardíaca, lisa e estriada) é que constitui o tecido preferencial. A presença dos parasitas causam lesões que prejudicam o funcionamento do coração, o que leva à morte do doente geralmente antes dos 50 anos de idade.
A profilaxia baseia-se principalmente no combate direto ao inseto transmissor, substituição ou melhora das habitações, educação sanitária, rejeição do sangue de doadores com sorologia positiva





Tripanossomíase Africana ou Doença do sono

Os tripanossomas agentes da doença humana são do grupo Salivaria, gênero Trypanosoma, subgênero Trypanosoon, atualmente designados Trypanosoma gambiense e T. rhodesiense (mais virulento para o homem), morfologicamente indistinguíveis um do outro e do Trypanosoma brucei, um dos agentes das tripanossomíases animais, sendo sugestivo que todos derivam de uma estirpe ancestral comum. Estes são polimórficos, exibindo 3 tipos morfológicos: curtos e grossos, longos e delgados, e intermédiários. A doença está confinada ao continente africano, sendo transmitida ao homem pela mosca Glossina palpalis, popularmente conhecida como tse-tsé.
A pessoa contaminada por T. gambiensis apresenta febre, fraqueza e anemia, casadas por substâncias tóxicas liberadas pelos protozoários parasitas. No último estágio da doença os tripanossomos atingem o líquido raquidiano, que banha o sistema nervoso, e a pessoa contaminada começa a se tornar sonolenta, até que perde a consciência e morre.
Nos últimos 50 anos a terapêutica da tripanossomíase humana africana, embora não consiga resolver integralmente todos os casos, teve um progresso substancial que permite obter uma maior capacidade funcional dos doentes a uma sensível redução da mortalidade.

Leishmaniose Visceral (Calazar)
É uma protozoose (Leishmania donovani) largamente espalhada pela regiões tropicais e subtropicais do globo terrestre. Caracteriza-se clinicamente por febre irregular de longa duração, emagrecimento, queda dos pêlos, anemia. Epidemiologicamente, caracteriza-se por ser uma zoonose de canídeos e roedores, transmitindo-se ao homem por intermédio de flebótomos.
Geralmente tem cura, se tratada. Se não, evolui para o óbito dentro de 1 a 2 anos. Na índia é conhecida como kala-azar (febre negra) ou febre Dum-Dum. No mediterrâneo intitula-se leishmaniose visceral ou leishmaniose infantil. No Brasil chamam-se leishmaniose visceral ou calazar. É conhecida ainda como esplenomegalia tropical.
O agente etiológico é um protozoário da família Trypanosomatidae, a Leishmania donavani (Laveran e Mesnil, 1903). É uma das diversas espécies do gênero Leishmania. As demais espécies (L. brasiliensis, L mexicana, L. tropica) são agentes etiológicos da leishmaniose tegumentar americana e do botão-do-oriente.

Leishmaniose Tegumentar Americana (Leishmaniose Cutâneo-Mucosa)
A leishmaniose tegumentar americana ou cutâneo-mucosa, ou úlcera de Bauru é uma moléstia infecciosa crônica, não-contagiosa, caracterizada pelo comprometimento cutâneo constante, mucoso em grande proporção dos casos, e ganglionar mais raramente. É causada pela Leishmania brasiliensis (Gaspar Vianna, 1911) e por algumas outras espécies e subespécies, e transmitida por insetos da família Phlebotominae, o mosquito birigui ou mosquito-palha. No estado de São Paulo tem sido detectado casos isolados, autóctones, em regiões onde há muitos anos a doença não era assinalada.
O mosquito se contamina ao sugar o sangue de pessoas doentes. Ao picar uma pessoa sadia, o mosquito injeta sua secreção salivar anticoagulante e, com ela, as leishmânias. Pelo sangue, os protozoários atingem a pele e as mucosas, causando feridas e lesões graves.

Malária
A malária ou impaludismo é uma doença infecciosa, não contagiosa, de evolução crônica, com manifestações episódicas de caráter agudo e períodos de latência que podem simular a cura. É a mais antiga, a mais distribuída, e a mais conhecida das doenças produzidas por parasitas animais.
Seus agentes etiológicos são protozoários do gênero Plasmodium, que pertencem a quatro espécies: Plasmodium vivax, P. falciparum, P. malariaea e P. ovale. As infecções do homem e dos mamíferos são transmitidas por mosquitos do gênero Anopheles e as das aves, por culicíneos.

Toxoplasmose
Infecção, algumas vezes doença, causada pelo Toxoplasma gondii (Nicolle e Manceaux, 1908). O gato é o hospedeiro definitivo, enquanto o homem, outros mamíferos e as aves são hospedeiros incompletos ou intermediários. O Toxoplasma gondii é o único membro conhecido do gênero. Existem 3 estágios principais de desenvolvimento: 1. Taquizoítos (organismos de rápida multiplicação da infecção aguda, também chamados formas proliferativas e trofozoítos); 2. Bradizoítos (organismos de multiplicação lenta ou de repouso nos cistos do toxoplasma e se desenvolvem durante a infecção crônica no cérebro, retina, músculo esquelético e cardíaco e em qualquer outra parte; 3. Esporozoítos (desenvolvem-se nos esporocistos, dentro de oocistos que são eliminados pelas fezes dos gatos). A infecção toxoplásmica ocorre em todo o mundo, segundo os resultados dos inquéritos sorológicos. A maior parte das infecções é assintomática, sendo a doença uma exceção no homem. A doença resulta de um grande número de células destruídas seja pelo microrganismo, seja pela hipersensibilidade, seja por ambos.
As recomendações preventivas podem ser esquematizadas da seguinte maneira:
1. Alimentar o gato somente com carne seca, cozida ou enlatada.
2. Evitar que o gato se alimente fora de casa.
3. Trocar os panos que servem de cama ao animais; desinfete-os com água fervente.
4. Durante a gravidez, usar luvas plásticas ou pedir a outra pessoa que cuide do gato.
5. Cobrir os tanques de areia das crianças quando não estiverem em uso.
6. Manter controle sobre os gatos de rua.
7. Manter controle sobre as moscas e baratas.
8. Não comer carne crua; cozinhar bem toda carne a pelo menos 66ºC.
9. Lavar as mãos antes das refeições e antes de com elas tocar o rosto.

Amebíase
A amebíase ou disenteria amebiana é causado pelo protozoário amebóide Entamoeba histolytica pertence a família Entamoebidae, cujos representantes se compõem quase só de parasitas. Embora o intestino do homem possa ser parasitado por diferentes espécies de amebas, a palavra amebíase é reservada apenas para designar o parasitismo por uma dessas espécies, a Entamoeba histolytica, única, de acordo com o consenso geral dos pesquisadores, capaz de desenvolver atividade patogênica. As demais amebas podem ser encontradas no intestino, a Entamoeba hartmanni, a Entamoeba coli, a Endolimax nana, a Entadamoeba bütschlii e a Dientamoeba fragilis, são destituídas de atividade patogênica. Seu conhecimento, porém, é muito importante, pela possibilidade de serem confundidas com a E. histolytica em exames de fezes.
A maneira mais comum de as pessoas adquirirem amebíase é através da ingestão de água ou alimentos contaminados por cistos de E. histolytica. A entamoeba invade glândulas da parede intestinal, onde se alimentam de sangue e de células dos tecidos. Os locais invadidos formam abscessos que, que ao se romper, liberam sangue, muco e milhares de entamebas, muitas já encistadas. Os cistos são eliminados com as fezes e, se contaminarem água e alimentos (como verduras, por exemplo), poderão ser transmitidos a outras pessoas. A E. histolytica apresenta duas fases no seu ciclo evolutivo: 1. Fase trofozoítica ou vegetativa (vive no intestino grosso ou nas últimas porções do íleo, movimentando-se, fagocitando e digerindo seu alimento e multiplicando-se
por divisão binária); 2. Fase cística (ela se imobiliza, deixa de fagocitar, rodeia-se de uma membrana resistente – membrana cística – e vive à custas de substâncias de reserva acumulada durante a fase anterior, sobretudo substâncias protéicas e hidrocarbonadas). As lesões produzidas pela E. histolytica localizam-se na mucosa e submucosa do intestino grosso.
Os sintomas agudos da amebíase são dores abdominais, acompanhadas por fortes diarréias.
Os abscessos intestinais têm cicatrização lenta, e mesmo depois de os sintomas melhorarem, a pessoa pode continuar a ser portadora, eliminando cistos que podem propagar a doença. São numerosos os medicamentos atualmente disponíveis para o tratamento da amebíase. A profilaxia da amebíase comporta medidas gerais e individuais. As gerais objetivam o saneamento do meio e incluem providências como a adequada remoção de dejetos humanos e fornecimento de água não contaminada à população; uso de instalações sanitárias para remoção das fezes; proibição de fezes humanas como adubo; educação sanitária da população; inquéritos epidemiológicos para descoberta das fontes de infecção; tratamento dos indivíduos parasitados, doentes ou portadores sãos, mormente se forem manipuladores de alimentos. As medidas individuais são representadas pela filtração ou fervura da água usada na alimentação; lavagem dos vegetais com água não contaminada ou água fervida; não ingestão de vegetais crus, procedentes de focos de infecção;
proteção dos alimentos contra moscas e baratas; lavagem cuidadosa das mãos após a defecação e antes das refeições.

Giardíase
A Giardia lamblia foi observada pela primeira vez por Leeuwenhoek, em 1681, em suas próprias fezes. Durante muitos anos esse protozoário teve denominações diversas, até que, em 1915, Stiles criou a designação Giardia lamblia em homenagem ao Prof. A. Giard, de Paris e Dr. Lambl, de Praga. Atualmente, muitos parasitologistas, principalmente os europeus, preferem a denominação Giardia intestinalis. Giardíase ou lamblíase é a infecção causada por Giardia lamblia, cujos sintomas se caracterizam por perturbações intestinais com a eliminação de fezes pastosas ou diarréicas e dores abdominais discretas.
A disseminação da giardíase deve estar condicionada aos seguintes fatores epidemiológicos:
1. Água de bebida ou de uso doméstico.
2. Alimentos vegetais comidos crus, tais como saladas, verduras e frutas, ou alimentos servidos frios, como leite, refrescos, cremes, etc.
3. Contato direto por manipuladores de alimentos.
4. Contato direto de pessoa a pessoa ou como conseqüência de fezes expostas.
5. Contato indireto, através de artrópodes domésticos (moscas, baratas).
A baixa prevalência de sintomas atribuídos a este protozoário tem sido a causa pela qual muitos autores duvidam da sua patogenicidade. No entanto, a ação patogência da Giardia lamblia tem sido confirmada por outros pesquisadores, que obtiveram o desaparecimento de sintomas gastrointestinais após tratamento específico. Para que os sintomas observados possam ser realmente atribuídos a parasitose é preciso não só encontrar o parasito, mas também que o tratamento adequado faça desaparecer a sintomatologia ao mesmo tampo que erradique a parasitose.
Assim, podemos resumir os seguintes itens relacionados com o quadro clínico de giardíase:
1. As condições são pouco comprometidas.
2. apetite é conservado.
3. sintoma mais freqüente é uma diarréia crônica, persistindo por meses e refratária ao tratamento sintomático usual.
4. As fezes são amolecidas e, de regra, expelidas sem dor ou cólica; geralmente são fezes sem sangue ou muco. Outras vezes existe constipação crônica. São também descritas distensão e dores abdominais.
A profilaxia da giardíase é de difícil execução, uma vez que depende não só do tratamento da matéria fecal e do lixo, mas também do combate aos insetos responsabilizados pela transmissão.
Outro cuidado necessário, a fim de ser impedida a disseminação da parasitose, diz respeito à proteção da água potável e dos alimentos, evitando a contaminação dos mesmos com os cistos dos protozoários. Medida profilática importante é também a observação dos postulados da educação sanitária e da higiene pessoal.

Balantidíase
Denomina-se balantidíase a infecção do homem e de animais pelo Balantidium coli (cosmopolita). A infecção humana quase sempre está ligada à atividade do indivíduo, no contato com porcos, criadores, trabalhadores em matadouros, açougueiros, etc., que tem maior possibilidade de ingerir os cistos do protozoário, em bebidas ou alimentos contaminados. O homem é muito resistente à infecção e o número de casos descritos na literatura alcança umas poucas centenas, se bem que o número de portadores assintomáticos pode atingir alguns milhares. No homem o Balantidium coli pode viver no intestino grosso sem causar dano algum, mas algumas vezes, o ciliado penetra pela mucosa, coloniza-se na submucosa que se mostra espessada. Ao exame microscópico dos tecidos é muito fácil identificar-se o parasita, não só pelo tamanho, mas também pela cor escura do macronúcleo, em forma de rim.
A sintomatologia é pouco significativa. Comumente, porém, existe diarréia, com 5 ou 6 evacuações diárias, dores abdominais, cefaléia,; este quadro clínico superpõe-se àquela da amebíase, devendo o clínico incluir sempre a balantidíase no diagnóstico diferencial com a amebíase.
Na profilaxia recomenda-se os mesmos processos em amebíases, pois são os mesmos mecanismos de transmissão, lembrando porém que os suínos, como hospedeiro natural, são as principais fontes de infecção da coletividade.

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